'Cadê os Orixás que não ressuscitaram Preta Gil?': quem é o padre denunciado por intolerância religiosa
01/08/2025
(Foto: Reprodução) Associação denuncia padre por intolerância religiosa ao citar morte de Preta Gil, na PB
O padre paraibano Danilo César de Sousa Bezerra, de 31 anos, foi denunciado por intolerância religiosa ao utilizar a morte de Preta Gil como forma de desdenhar de religiões de matriz afro-indígena durante uma missa no município de Areial, no Agreste da Paraíba. Três boletins de ocorrência foram registrados contra o pároco, e o caso é investigado pela Polícia Civil.
No vídeo de grande repercussão nas redes sociais, o padre cita o caso da morte da cantora Preta Gil, que faleceu nos Estados Unidos em 20 de julho, vítima de um câncer colorretal.
“Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”, disse durante a missa.
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Padre Danilo César é natural de Monteiro, no Cariri da Paraíba. Ele assumiu a Paróquia de São José, no município de Areial, em janeiro de 2021.
A trajetória religiosa começou em 2011, quando ingressou no seminário, em Campina Grande. Três anos depois, concluiu o curso de Filosofia e, em 2018, formou-se em Teologia.
Antes da ordenação sacerdotal, atuou como estagiário na própria paróquia de Areial, entre 2015 e 2016, e depois na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, em Campina Grande, entre 2017 e 2018, onde também foi ordenado diácono.
A ordenação como padre aconteceu em setembro de 2019, em sua cidade natal, Monteiro. Desde então, desempenhou funções como vigário nas cidades de Alagoa Nova e Campina Grande, nesta última na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no bairro da Prata, até ser designado padre para a paróquia de Areial.
Associação denuncia padre por intolerância religiosa
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Outros dois boletins de ocorrência são registrados contra padre de Areial
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O vídeo no qual o padre faz as declarações foi postado inicialmente no canal do YouTube da Paróquia, em uma transmissão ao vivo, no entanto o conteúdo foi tirado do ar.
Em nota emitida na quarta-feira (30), a diocese disse que o sacerdote, através da assessoria jurídica, irá prestar todos os esclarecimentos necessários aos órgãos competentes”.
Na nota, a diocese reiterou também que está comprometida com “os direitos constitucionais da liberdade de crença e de culto, da igualdade e não discriminação religiosa, do direito à honra e à imagem dos mortos e do princípio da dignidade da pessoa humana”.
Padre Danilo César de Sousa Bezerra, de 31 anos, é investigado por intolerância religiosa
Reprodução/Diocese de Campina Grande/Studio Foto Braga
As investigações
As falas do padre Danilo César aconteceram durante uma missa celebrada no domingo (27), e transmitida ao vivo. Após citar o caso de Preta Gil, ele fala diretamente aos fiéis que estavam o acompanhando na Igreja de Areial para pararem de procurar essas “coisas ocultas” e que “o diabo os levasse”, se referindo aos católicos que fazem pedidos para entidades de outras religiões.
O padre relatou também no vídeo uma história envolvendo uma mulher e sua filha que, conforme ele, teriam o procurado após essa mãe “consagrar” a filha para “essas entidades desconhecidas que têm vários nomes”. Ele associa práticas de religiões de matrizes africanas com doença e morte.
“E tem católico que pede essas coisas ocultas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte quando acordar lá, acordar com calor no inferno, você não sabe o que vai fazer. Tem gente que não vai aqui (Areial), mas vai em Puxinanã, em Pocinhos, mas eu fico sabendo. Não deixe essa vida não pra você ver o que acontece. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha”, disse.
O primeiro boletim de ocorrência contra o padre foi registrado na terça-feira (29) pela Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria. Em seguida, a Polícia Civil confirmou que outros dois boletins de ocorrência também foram registrados contra o padre da cidade de Areial por intolerância religiosa.
Rafael Generino (à esquerda), presidente de uma associação de religiões de matriz afro-indígena, registrou BO contra o padre de Areial por intolerância religiosa
Rafael Generino/Acervo pessoal
De acordo com o delegado Danilo Orengo, delegado da seccional de Areial, e também com a responsável pelo inquérito policial, a delegada Socorro Silva, os outros dois boletins de ocorrência foram registrados pelo mesmo fato e, por isso, serão analisados na mesma investigação.
“Os boletins de ocorrência foram feitos um em Puxinanã, que foi lavrado na delegacia de Pocinhos, porque Puxinanã é de Pocinhos, e um foi lavrado em Campina Grande. Mas esses boletins serão encaminhados para a nossa seccional, porque versam sobre o mesmo fato”, disse o delegado.
Conforme a delegada Socorro Silva, o padre vai ser ouvido no inquérito. No entanto, as investigações ainda estão na fase de escutar testemunhas. Só posteriormente o padre será ouvido.
O g1 procurou a Diocese de Campina Grande após os registros dos novos boletins de ocorrência. A instituição não se pronunciou até a última atualização desta matéria.
Irmã de Preta Gil responde padre: 'absurdo'
A apresentadora Bela Gil, irmã de Preta Gil, respondeu ao padre Danilo César, denunciado por intolerância religiosa durante uma missa na cidade de Areial, no interior da Paraíba. O padre utilizou a morte de Preta Gil como forma de desdenhar de religiões de matriz afro-indígenas. O caso é investigado pela polícia.
A resposta de Bela Gil veio pelas redes sociais. A irmã de Preta Gil republicou nos stories do Instagram uma postagem do filósofo Leandro Karnal sobre as falas do padre, respondendo o seguinte:
“É cada absurdo que a gente precisa ouvir. Seu padre desrespeitoso”, ressaltou.
Postagem foi feita nas redes sociais por Bela Gil, irmã de Preta Gil, em relação ao padre investigado por intolerância religiosa
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